28/07/09

Livros no Bolso - XII

A Rosa
Robert Walser
Relógio d’Água, 2004


Robert Walser, nasceu em 1878 em Bienne, na Suíça. A sua aparente loucura, a sua escrita quase desconhecida (ou conhecida apenas de um leque restrito de literatos) e a sua morte solitária, trouxeram-lhe o cunho de génio abandonado.

É precisamente a Robert Walser que dedicamos mais uma edição do Livros no Bolso; o livro que dele trago chama-se A Rosa e é feito de breves histórias, 38 no total, ou 42 se contarmos com as histórias contidas em Diálogos.

Começo com um breve excerto retirado da história Uma estalada e outras coisas: «Ontem escalei um monte; a subida correu bem até que deparei com o piso coberto de gelo e me desequilibrei. Não havia por ali uma única arvorezinha a que me pudesse agarrar. Se teimasse em conservar uma pose bonita, não iria conseguir nada. Tive então a ideia, a que seria mais do que evidente, aliás, de colocar as mãos também no chão e de passar algum tempo a andar de gatas numa posição das mais graciosas que se possam imaginar. Sou da opinião que devemos saber adaptar-nos às situações».

É difícil definir o estilo de Walser, porque a sua escrita não tem um tom constante. O leitor que agarre esta sugestão e dedique umas horas à leitura das pequenas histórias contidas em A Rosa, ver-se-á facilmente oscilar ora entre páginas de uma ironia astuta, ora entre textos de assaz sobriedade. O ponto de confluência estará, talvez, numa prosa que nasce dos assuntos mais banais mas que, ao leitor mais atento, acabam por dar matéria para profundas reflexões.

Uma das minhas histórias preferidas, é uma verdadeira celebração do silêncio e do pensamento; tem por título O solitário, e a dado momento diz: «Em vez de ir vinte vezes ouvir concertos, vou apenas uma vez, e o que então escutei ecoa fortemente para mim, por entre as vastas galerias da lembrança». É interessante, no entanto, reparar que, se retrocedermos umas páginas, a ponderação dá lugar ao cinismo, num registo totalmente distinto. Conta-nos Tito na história que dá pelo mesmo nome: «Permito a todos aqueles que sentem afeição por mim que persistam na construção desse edifício de amizade tanto tempo quanto quiserem: não serei eu a impedi-los de o fazer, visto que não lhes ligo a menor importância».

Robert Walser consegue surpreender-nos a cada nova história com os humores flutuantes dos seus narradores. Tido como percursor do modernismo Europeu, Walser consegue condensar em prosas breves, por vezes inferiores a uma página de texto, alegria e tristeza, sarcasmo e docilidade, franqueza e cinismo. Talvez por isso tenha sido alvo da admiração de autores como Kafka ou Musil. Na minha modesta pequenez, só me resta afirmar ter-me também eu tornado sua admiradora depois desta agradável experiência que foi a leitura de A Rosa.

Sem comentários:

Enviar um comentário