05/10/09


O Dia Mastroianni
João Paulo Cuenca
Caminho, 2009


No passado Livros no Bolso trouxemos-lhe o mais novo romance de Chico Buarque. Esta semana mantemo-nos na literatura Brasileira e propomos-lhe João Paulo Cuenca, autor de quem Chico Buarque diz gostar particularmente, e que esteve recentemente em Portugal a lançar O Dia Mastroianni.


Conforme nos diz Cuenca no início do livro, é denominado “Mastroianni” o dia gasto em pândegas excursões a flanar na companhia de belas raparigas, à brisa das circunstâncias e alheio a qualquer casuística. Mas na realidade, o Dia Mastroianni não existe para lá da imaginação do escritor e do seu circulo íntimo de amigos. E existe neste livro, uma cruzada pós-moderna de dois amigos adolescentes pelo cosmopolitismo de uma cidade e das horas perdidas, e um retrato algo cruel de uma geração que teve o infortúnio de nascer, nas palavras do próprio Cuenca, “num mundo em que é muito mais difícil viver” .


Pedro Cassavas e Tomás Anselmo são os heróis desfeitos da história. Vestidos a rigor, os dois amigos deambulam por uma cidade dispersa, compram narcóticos numa banca de churros, frequentam restaurantes caros, jogam bingo, vão a festas para as quais não foram convidados e brindam a toda uma geração perdida de “dândis precoces, escritores sem livros, músicos sem discos, cineastas sem filmes (…) lordes sem um tostão nos bolsos, trocando os dias pela noite e as noites por coisa alguma!” (p. 22)


Considerações metafísicas sobre uma vida onde nada parece acontecer de verdade e onde toda a acção seria decorrente de um sonho distante, a espaços intercalado por diálogos meta-linguísticos a remeterem para o alter ego do próprio escritor, num gozo declarado à nova literatura brasileira e às pretensões dos jovens artistas.


São 24 horas aquelas em que acompanhamos Pedro Cassavas e Tomás Anselmo no Dia Mastroianni. Tempo suficiente para vir a sentir saudades da doce Maria e de Verónica, do famoso escritor de apelido quase impronunciável e das suas concubinas, de Dona Giulietta e do mordomo Johann ainda que fique o gostinho amargo de um desfecho em que história, personagens e leitores, todos desaparecemos – ou será que não? É ler o livro e descobrir meus senhores, é ler o livro e descobrir.

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