13/08/09

Considerações pouco carinhosas sobre JRS e MST





Nunca li o José Rodrigues dos Santos (apenas alguns parágrafos soltos, nada mais), e do Miguel Sousa Tavares li apenas o Rio das Flores, mas sou peremptória quando digo que não gosto da sua escrita. Não digo que não cumpram uma função cultural importante ao trazerem mais pessoas para a leitura; desde que não haja erros graves de ortografia e construção frásica – e parece-me ser esse o caso – não acredito que venha mal ao mundo pela leitura dos seus livros, antes pelo contrário. Acontece, porém, que eu busco num escritor mais do que a capacidade de contar histórias (capacidade essa que, mesmo assim, seria bastante discutível em Rio das Flores). A mim interessa-me sobretudo uma escrita que me detenha e ofereça algo de novo, uma escrita capaz de subverter os cânones literários, sem no entanto os ignorar (virá daí o arrebatamento em que me deixa Bolaño, ou entre nós, a escrita de Nuno Bragança?). A história é importante, não nego, mas uma boa história é apenas uma ínfima parte daquilo que espero de um bom livro.
Ora vem isto a propósito do Conversas de Escritores (programa de JRS que anunciei aqui, há alguns dias atrás) transmitido ontem na RTP N, com entrevista a MST. Tendo já confessado a minha pouca simpatia por ambos enquanto escritores, não surpreenderá pois que o meu comentário ao programa seja assumidamente negativo. As razões são várias, a começar pela natureza das perguntas, maioritariamente de cariz pessoal (a insistência de JRS em indagar das aptidões sedutoras do seu entrevistado ou asseverar os seus hábitos subversivos ou o seu gosto pelo politicamente incorrecto irritou-me sobremaneira), passando pelo afagar final de ego, quando MST diz ser detestado pela crítica em Portugal e JRS, qual defensor do seu par, se sai com um “não será bem assim!”. Disse MST que os leitores gostam muito de si, mas a crítica não. Já lhe passou pela cabeça, caro Miguel, que os seus críticos também serão seus leitores? Leitores críticos, bem entendido.

2 comentários:

  1. Trata-se efectivamente de um fenómeno mais comercial do que literário, muito suportados por uma máquina de marketing bem oleada.

    No entanto, apesar de um bom livro ser um conceito muito difícil de definir, uma boa história, bem contada, deve ser valorizada... o que acontece nos casos de "Equador" ou de "A Fórmula de Deus".

    Não ficam certamente atrás de outros blockbusters internacionais como Dan Brown e motivam muita gente a tentar pegar num livro!

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  2. Hi-hi, saltaram-me à vista, quero dizer, fizeram-me cócegas na leitura, 2 vírgulas mal usadas:
    4ª linha - «(...) nada mais) e do Miguel Sousa Tavares li apenas o Rio das Flores, mas (...)»
    16º linha - «(...) Bolaño ou, entre nós, a escrita de (...)»
    De resto, gostei da crítica. Um bocadinho elitista, é certo, mas mesmo assim muito menos do que o é o MST!
    Agora concordar, concordo é mesmo com o comentário do Pedro. Ou melhor, concordo com a afirmação de princípio, porque ler eu não li nadica de nada de nhenhum dos autores referidos...

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